quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CARTA DE VIOLET PARA VITA (ABRIL DE 1919)

21 de abril de 1919

Li sua carta mais uma vez, sua carta escrita com a mesma letra de que você tinha aos quatorze anos, e eu doze... A mesma letra querida que me entusiasmava mesmo quando eu era criança. Quase cega pelas lágrimas, eu parecia ver todas as cartas que você já me escreveu, aquelas de quando você tinha quatorze eram tímidas, ternas e confiantes.
Aos dezesseis, ai de mim! elas ja haviam começado a ficar indiferentes, cautelosas e pouco demonstrativas; mas houve uma ou duas excessões carinhosas que eu sabia quase de cor; aos dezoito e dezenove, suas cartas não eram mais regulares. Eram poucas e esparsas, apressadas e reservadas, mas com uma frase extraviada aqui e ali que traia apesar de tudo, você não havia me esquecido... Continuaram cada vez menos pessoais, e finalmente quando tinha vinte e um, eram objetos sociais. Depois cessaram.
Durante quatro longos anos, elas cessaram.
Há um ano atrás, recomeçaram. Aquela que me escreveu depois que voltamos de Polperro começava:¨MINHA QUERIDA¨ ... agradeci a Deus e pensei morrer de gratidão. E daí em diante, ah Mitya! ...Que maravilha elas tem sido! Tem sido cartas de amor, de você, da mesma você que eu amei quando era criança, que me escrevia quando tinha quatorze anos, a mesma pequena escrita clara e simétrica... Praticamente toda a minha vida eu a conheci: ela cresceu comigo, comigo ela passou a usar saias longas e comigo prendeu seu cabelo, falando de modo figurado. Familiar e adorada.
Meu Deus, Mitya! Como posso pensar em perder você para sempre?
Eu me lembro de você dizendo a primeira vez que fomos a Chateau Malet: ¨Podemos ficar separadas por algum tempo, até por um ano, mas por todas nossas vidas voltaremos uma para a outra ¨.
O que fiz a você, Mitya, exceto amá-la?...

Sua Alushka

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